Hoje foi dia de abrir a grande caixa que fica o ano inteiro no quartinho e redescobrir os enfeites, a guirlanda, a nossa árvore. Gosto do ritual de abrir as embalagens e lembrar-me dos primeiros enfeites que compramos, da árvore, da coleção de bolinhas com neve, dos presépios, de quando os filhos ainda acreditavam em Papai Noel.
Montamos nossa árvore de Natal. A casa está decorada mais uma vez.
Não sou muito adepta a descartáveis, e comprar enfeites novos todos os anos. Se os meus aguentarem, gostaria que fossem os mesmos, a mesma árvore, sempre. Seja lá quanto tempo isso for.
Minha mãe adora a festa de Natal e a casa dela se transforma numa verdadeira loja de enfeites, linda. Eu gosto de deixar a casa enfeitada, mas prezo pela praticidade. Ela faz uma coisa muito mais artística, elaborada.Somos diferentes.
Houve vezes que ela fez árvores únicas, com enormes galhos que achamos na rua. Pintados, estilizados, uma delas lembro bem, era um galho pintado de cor de rosa e cheio e pombinhas brancas e laços rosa, prata. Um luxo.
Mas quando eu era bem pequena, e esta lembrança sempre me vem à mente quando sinto o cheiro de um pinheiro, a árvore de Natal era um ritual, uma grande aventura.
Nós íamos comprar nossa árvore de Natal no Horto Florestal, na Serra da Cantareira. Até onde sei eles plantavam os pinheiros com esta finalidade, corte e venda no Natal. Era um galpão enorme que cheirava Natal! Havia árvores de vários tamanhos e preços, e as pessoas ficavam procurando aquela que mais se encaixava, pelo tamanho e pelo preço.
Minha mãe era exigente, no tamanho, no formato, na regularidade dos galhos.
– Sem buracos, ela dizia.
– Levantem aquela, por favor!
– Acho que a outra está mais cheia…
Era divertido. Depois de escolhida, a aventura continuava, ela vinha no teto do carro amarrada por dentro e por fora. Tinha que tirar do carro, colocar num vaso bacana…
Naquela época ficámos chateados com o fato da árvore durar pouco mais de 02 meses, mas era o ritual de uma época onde as opções eram: pinheiro natural, ou então aqueles pinheiros metalizados, prata, ouro, azul (eu achava estes muito feios). Afinal lá em casa tínhamos uma árvore “gigante” aos meus olhos de criança, perfumada, e com aquelas bolas de vidro, sim as bolas eram de vidro e todo ano algumas se quebravam.
– Cuidado! Não mexa!
E eu ficava me olhando no reflexo daquelas lindas bolas metalizadas, mas tão frágeis como uma casca de ovo.
Sinto saudades.
Da aventura na Serra da Cantareira, do cheiro delicioso das folhas do pinheiro, do meu Papai Noel.